
Um barulho surdo fez com que Phil despertasse de um sonho ardente que estava tendo com seu antigo companheiro e mentor Alex. Abriu custosamente os olhos e não encontrou seu irmão na cama ao lado, em seu quarto. Não era manhã nem noite. A luz estava fraca e trêmula. Não podia se distinguir que horas eram exatamente. Isso fez com que Phil se atentasse ainda mais se erguendo, pois se era algo que ele estava totalmente familiarizado atualmente era com o tempo e a certeza dele a qualquer momento em qualquer lugar.
Estava descalço vestindo apenas com um calção florido azul. Sentiu ligeiro frio, mas ignorou e levantou-se a procura da origem do som que o despertara. Nem seu irmão mais novo nem sua mãe estavam em seu apartamento. Por um curto momento Phil sentiu-se aliviado por estar novamente sozinho em sua casa, contudo sentiu uma presença alarmante vir do andar de baixo. Quando chegou a sala das maquinas de fliperama todas as telas exibiam imagens do irmão de Phil numa vereda escura. Este corria como se fugindo de sombras incertas. Phil pôs-se a correr em direção da saída, para a rua. Como se soubesse onde ficava localizada aquela vereda.
Não havia ninguém, como se fosse uma fria madrugada de inverno. Foi então que Phil teve a certeza de que algo estava muito tortuoso. Era pleno verão! Não havia a mínima possibilidade de estar fazendo todo o frio que fazia com que o rapaz tremesse os lábios. As ruas estavam molhadas, e por um instante viu no chão um reflexo que não correspondia ao que deveria refletir. Ele não conseguiu vislumbrar o corpo que havia conquistado mutar depois de ter controle dos conceitos e padrões de vida e vitalidade. Isso lhe trouxe uma angustia devastadora. Ao mesmo momento dessa percepção as calçadas diluíram-se num conceito encharcado enquanto ele escorregava para encontrar um mundo parecido com as imagens que vira no fliperama, mas diferente das idéias de conjurações simplórias mundanas e de bolhas de realidades oníricas.
Era o reflexo do mundo que ele conhecia como real. Uma floresta mergulhada na penumbra do que fora aquela cidade. Era a reflexão do chão molhado. O jovem sentiu-se débil diante de tal sucção.
Phil tentou se levantar, mas sentiu um peso contra suas costas nuas. Seguramente era um pé descalço. Tentou virar a cabeça para olhar quem tentava contra ele, mas uma força o impediu. Ele viu uma figura incerta refletida, numa sombra macabra. Não conseguiu unir forças de pensamento para combater a idéia de que estava em apuros e em breve estaria em pânico. Até que ouviu uma voz metálica e andrógina chegar-lhe aos ouvidos, ao mesmo momento esta voz lhe pareceu de algum modo íntima.
— Você tem sido muito vaidoso Phil... Só tem olhado suas aspirações de ascensão. Tanto que não percebeu os significantes sinais de despertar de teu irmão.
Phil sofreu um choque. Sim ele havia percebido alguns signos de um possível despertar, mas jamais que seria responsável de algum modo por esse fato.
— Sim seu arrogante! Você é responsável! — A figura estava lendo pensamentos dele. Phil achou isso ultrajante!
— Quem é você? E onde estou?
— Está vendo? Você só se preocupa com as próprias idéias... Você viu que seu irmão estava em perigo... Eu sou um ser interessado nas possibilidades de realidade e sonhar de teu irmão. Mas saiba tão logo que não sou o único. Não mesmo... Os tecnocratas também o procuram... E Os do Caos.
Assim que o tal ser especificou não ser nem um tecnomante nem um caótico, veio-lhe o impacto do que o ser que se atrevia a lhe aprisionar era um artífice das sombras. Um decaído! Um moldador de vontades baseadas no puro mal.
A ponta de um guarda-chuva tocou o rosto de Phil. Que lentamente foi sendo erguido. E foi posto de frente aquela figura indecifrável de sombra, que deixava ser vista somente como se a cabeça do outro estivesse sempre sendo posta para baixo. Via-se apenas um brilho fosco avermelhado vindo de onde estriam os olhos da criatura.
Phil sempre havia sido alertado de que tais magos não devem ser enfrentados, não se você estiver sozinho. Porém não havia como nem para onde correr naquele instante.
— Não tema. Não o estou censurando por sua vaidade. Na verdade é totalmente o contrário. Enquanto os outros perseguem teu irmãozinho indefeso que não deixa de ter o seu devido valor, eu quero você! Este é um convite. Uma proposta. Posso fazer com que nenhum dos outros toque teu familiar e com que ele jamais desperte para esta realidade que você tem conhecimento, e que sabe que é perigosa. Mas em troca terás que me acompanhar por uma jornada.
Phil sabia que tal ser não blefaria assim. E tranqüilizava-se agora também que tinha certeza de que não haveria um embate físico, pelo simples fato de não haver comparação de vontade. O outro queria a vontade de Phil, não um prélio. Sabia também que uma jornada com esse ser significava uma desistência de si para servir a algo maior. Não era nisso que ele queria pensar no momento. Phil pensou em seu irmão antes. E sem pensar em mais nada aceitou uma possibilidade de aceitar a troca. Sentiu os pés tocarem a lama do chão.
— Qual é teu nome?
— Sou tua penumbra vaidosa. O orgulho que reflete tua decisão de estar acima de quem te importa... Hahaha...
— Qual teu nome? — Phil repetiu aumentando o tom de voz.
Um brilho vacilou na face da criatura e o outro reconheceu Alex; quando ouviu novamente um ruído surdo. Phil tentou se virar para o lado de aonde vinha o som quando despertou novamente com seu irmão lhe empurrando.
Ele sorriu somente e abraçou o garoto antes de dizer nada. Lá fora caia uma forte chuva de verão.
Sobre a Imagem Literária:
O post acima faz parte de um “projeto” no qual um conjunto de escritores se juntou com objetivos “secretos” (talvez dominar o mundo). E produzimos tendo como inspiração básica uma imagem proposta por um destes escritores. Este foi meu conto. Espero que curtam. Esta imagem foi proposta por mim. A proxima eh de Elvis.
E os contos continuammmmm. Não deixem de conferir!
Outro conto baseado na mesma imagem do reflexo na agua:
Elvis: http://www.fotolog.com/fanzineragnarok
Quem mais? Quem mais?